domingo, 29 de julho de 2012

Controle e rapidez: saiba como funciona o transporte de frutas


Do pomar à feira ou ao supermercado, o transporte de frutas depende de uma logística planejada e controlada. Tanto frutas nativas e menos sensíveis quanto as mais exóticas requerem cuidados na hora de armazenar, manusear e embalar. Caso contrário, o transporte pode contribuir para elevar o índice de perda da carga, que, motivado também por outros fatores, fica em torno de 30%, segundo o pesquisador de pós-colheita da Embrapa Clima Temperado Fernando Cantillano.
O principal item a ser monitorado é a temperatura. Gerente da transportadora Benassi, Arquimedes Facchini indica que o ideal é realizar o transporte em compartimento frigorificado, para manter as frutas em baixas temperaturas e conservá-las por mais tempo - no caso de frutas vindas de outros países, a viagem pode demorar de duas a quatro semanas. Porém, alguns transportes são realizados em caminhões de carga seca, geralmente quando as frutas têm baixo valor agregado. Para tanto, elas são colhidas ainda quando não estão maduras, mas, mesmo assim, a perda costuma ser maior.
Nos transportes frigorificados, cada variedade de fruta tem uma temperatura específica em que deve ser armazenada. Mas, em geral, a medição fica em torno dos 4ºC. Além disso, não pode haver oscilação de calor. "Se subir a temperatura, a fruta amadurece", adverte Facchini. Para isso, existem caminhões e contêineres equipados com sensores de temperatura, assim o motorista pode acompanhar em tempo real o nível de calor dentro do compartimento. Cantillano revela que algumas pesquisas feitas na Europa estão criando um chip para que o produtor também possa monitorar, além da temperatura, a umidade e a aceleração do caminhão, tudo remotamente.
A estocagem das frutas nas carretas ou nos contêineres também requer procedimentos especiais. Facchini explica que a disposição das frutas em paletes auxilia na movimentação da carga, desde que sejam observados alguns itens como a resistência do material e a acoplagem. "A paletização tem que ser perfeita. Além disso, entre as caixas, tem que deixar uma passagem de ar para não afetar o frio do contêiner", ensina o gerente da Benassi. A limpeza do compartimento é outro aspecto que pode afetar a carga. Segundo Cantillano, se frutas como a maçã forem transportadas em um contêiner que antes continha cebolas, é possível que o cheiro fique na fruta, caso a higiene não tenha sido bem efetuada. Carregar esses dois produtos na mesma carga também pode não ser uma boa idea, alerta o pesquisador.
Na hora de carregar e descarregar, a orientação é manusear somente o necessário. "Se a fruta é refrigerada, tem que descarregar rapidamente e colocar na câmara fria. Se deixar esquentar, perde todo o trabalho", ressalta Facchini. O tempo levado entre a origem e o destino é crucial para que as frutas cheguem com boa aparência à mesa dos consumidores. "São produtos muito perecíveis. Cada dia conta, pois a fruta pode apodrecer", diz Cantillano. O problema, nesse caso, é a burocracia para a liberação da carga, que pode levar até uma semana.
Frutas exóticas, cuidados redobrados
Califórnia, Israel, Nova Zelândia, México e Colômbia são apenas alguns dos países de onde Jorge Gomes, expositor da Feira Modelo de Porto Alegre, importa frutas exóticas. São cerejas, framboesas, amoras, granadinas, além de mirtilo e physalis que recebem cuidados específicos durante a longa viagem até o Brasil.
Para que dê certo, tudo é feito com programação. Se o transporte é realizado por via aérea, há controle rígido nos horários de saída e de chegada. Na via terrestre, geralmente são utilizados compartimentos refrigerados, geralmente a 4ºC. "Menos do que isso, corre o risco de queimar a casca. Mais calor diminui a durabilidade", ensina Gomes. No caso dos navios, a liberação é o principal entrave. Para cargas oriundas da Argentina, por exemplo, a licença tem sido providenciada antes do carregamento, para evitar atrasos nos trâmites. "Algumas cargas já ficaram até 30 dias paradas. A perda foi de 70%. É complicado porque entra no custo da mercadoria para o consumidor", explica o expositor.
O acondicionamento das frutas também é parte importante do processo. Geralmente mais sensíveis, além de serem originárias de outro tipo de clima, as variedades mais exóticas precisam ser bem embaladas - algumas chegam a ser transportadas em caixas de isopor. Inclusive dentro do Brasil, há frutas que precisam ser carregadas em aviões devido a sua baixa durabilidade, como é o caso do caju. Outras sequer podem ser transportadas a longas distâncias, como o açaí in natura. "Mesmo sendo aéreo, não consegue. Só mesmo a polpa congelada", conta Gomes. Por isso, na hora de pensar a logística e avaliar eventuais perdas, o controle de qualidade, segundo o expositor, é severo. "Fruta não é só no dia. Tem que estar boa para o cliente levar pra casa".

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