terça-feira, 16 de outubro de 2012

Insuficiência de silos nas regiões produtoras gera filas de caminhões nos terminais graneleiros



Silos ambulantes: 
fila de caminhões para descarregar
 açúcar no Porto de Santos, em 2010.
 (Foto: Alex Almeida/Uol)
O presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, chamou a atenção na última semana para o problema de desembarque no transporte a granel nos portos, que gera filas e atrapalha a produtividade de todo o setor e a exportação dos produtos.
De acordo com ele, os caminhões precisam esperar no mínimo dois dias para poder descarregar produtos como soja, açúcar e milho, sendo que a espera prevista na Lei 11.442/07 para carga e descarga do veículo é de até cinco horas. Após esse período, o embarcador terá que pagar o valor de R$ 1 por tonelada a cada hora de atraso para a empresa ou caminhoneiro autônomo.
Na contra-mão do diagnóstico do presidente da EPL, os transportadores rodoviários de cargas – empresas e autônomos – apontam os embarcadores e respectiva política de silagem como os vilões dessa história.
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Claudinei Pelegrini, reclamou que a demora acaba sendo atribuída ao caminhoneiro e que a lei da descarga não é cumprida pelas empresas.
“Os grandes despachantes, que mandam mercadoria pra fora do país e utilizam os caminhões para chegar até os portos, usam as carretas para ser um depósito e não querem pagar a estadia do caminhão.”
A prática de utilização de caminhões como silos é bastante utilizada desde 2003, quando houve a primeira grande quebra de produção da soja, aumentando de forma significativa a demanda pelo produto. Como os embarcadores não investem em silos, nas regiões produtoras, transformam os caminhões em silos ambulantes.
Logo, esse não é um problema portuário, como afirma o presidente da EPL, mas um problema de silagem e regularização de fluxo dos produtos para os portos.
Portos de Santos e Paranaguá
Quilômetros extensos de fila de caminhões à espera para desembarcar produtos é uma realidade sazonal no Porto de Paranaguá. Pelegrini afirma que durante toda a época da safra de soja, o porto chega a ter filas de até 30 Km e demora cerca quatro a seis dias para atender todos os caminhões.
Outro momento pontual de pico de demanda nesses portos é relativo ao açúcar. Recente quebra de safra de países produtores gerou uma demanda gigantesca pelo produto brasileiro. A necessidade internacional era tanta que os armadores preferiam enviar seus navios para ficar vinte, trinta dias esperando sua vez em Paranaguá e Santos, do que perde-la.
O presidente da NTC&Logística, Flávio Benatti, concorda que, atualmente, Paranaguá é o porto que se encontra em situação mais delicada com relação a grande tempo de espera, seguido pelo Porto de Santos. “Recentemente a fila de descarga em Paranaguá chegou quase em Curitiba”, disse.
Benatti também chama a atenção para os produtores de grãos que, durante o período de safra, lotam caminhões e atrapalham as atividades nos portos, transformando-os em depósitos.
“Os silos para armazenagem nos portos não deve servir de espaço para depósito, ele deve ser feito na origem, e conforme há demanda, o produto deve ser transportado para o porto. Evitando assim que os portos se tornem estoque de produtos”, disse.
Mais uma vez, os transportadores rodoviários de cargas – empresas e autônomos – mostram que o problema não está no porto, mas na necessária silagem nas áreas de produção. Em nenhum lugar do mundo os terminais portuários são dimensionados para atender os momentos de pico sem algum tipo de regulação do fluxo de trens, barcaças e caminhões.
Figueiredo acredita que reverter esse quadro poderá gerar ganhos de produtividade e se comprometeu a pensar em soluções para melhorar os gargalos logísticos do país. “A EPL tem como finalidade intervir na infraestrutura e pensá-la de forma integrada nas rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.”
Entretanto, o presidente da EPL ainda não disse como vai atuar em cima desse problema da silagem, que é vital para solucionar esse quadro de exploração dos caminhoneiros, transformando-os em silos ambulantes, gerando filas, esperas e baixa qualidade de vida para os motoristas.
Enquanto esse problema for tratado como problema dos terminais portuários, não haverá solução, como indicam os dirigentes do setor do transporte rodoviário de cargas.

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