As grandes cidades brasileiras têm na mobilidade urbana um dos graves empecilhos para seu desenvolvimento sustentável. A questão é agravada nas regiões metropolitanas, por não haver uma correlação de forças políticas, administrativas e financeiras para equacionar o problema por sua raiz estrutural.
Esse fenômeno se repete em Fortaleza por duas razões distintas: o espaço estreito das avenidas e das ruas e a qualidade do transporte público oferecido à população. Essas limitações sofrem as consequências do aumento acentuado da frota de veículos particulares, os quais já não têm espaço nem para transitar regularmente no sistema viário, nem para estacionar.
A Região Metropolitana de Fortaleza é composta por 15 municípios, espalhados pelas faixas litorânea e sertaneja. Há alguns anos, a circulação por seu entorno se fazia em razão do abastecimento feito na Capital para o Interior, além de outras operações comerciais, financeiras, de importação e exportação.
Esse quadro foi alterado paulatinamente como decorrência do êxodo rural. As estiagens prolongadas forçaram as migrações campo-cidade, priorizando o assentamento na Capital.
Parte desse fluxo de contingente humano procurou fixar residência também nos Municípios próximos, onde os aluguéis eram menores, mas disputando os empregos na Capital. Havia barreiras intransponíveis. As oportunidades de trabalho surgidas no mercado urbano não se coadunavam com a mão de obra oriunda do campo.
No segundo momento, aconteceu o movimento oposto. As indústrias instaladas em Fortaleza, atraídas pelos incentivos fiscais, se viram na contingência de deslocamento para os Municípios vizinhos. A transferência de sedes empresariais era uma imposição do mercado, porque os estímulos reduzem as despesas operacionais, dando a elas condições de melhor competitividade.
Os moradores da Região Metropolitana comprometem 14,7% da renda mensal com os deslocamentos entre cidades. O ônus financeiro no orçamento doméstico, para quem recorre ao veículo particular, é três vezes superior ao do transporte público. Há outro aspecto: o custo do transporte privado, na Capital, é bem maior em relação às demais cidades do arco metropolitano.
Essa questão está bem detalhada no estudo promovido pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), denominado "Comunicado nº 154 - Gastos das famílias das regiões metropolitanas brasileiras com transporte urbano". O estudo analisa as despesas das famílias brasileiras situadas em nove Regiões Metropolitanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Fortaleza, Salvador e Belém.
O objetivo do trabalho é investigar o aumento dos gastos com transporte individual, pelas famílias brasileiras, em detrimento das despesas dos deslocamentos por meio do transporte público. Na estrutura das cidades estudadas, o uso do carro privado impede o desenvolvimento de sistemas eficientes de transporte coletivo, em razão das barreiras para fluidez do tráfego. Por outro lado, não há oferta de transporte público de qualidade e de quantidade da demanda. A situação é de um círculo vicioso.
Fortaleza está testando o trem metropolitano e projeta outro sistema de veículos leves sobre trilhos. Ambos constituem um avanço considerável, quando estiverem em pleno funcionamento, mas é preciso procurar outras alternativas para esse problema que só tende a piorar.
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