Lado a lado com essa demanda vem a necessidade de qualificar mão de obra. “Nós temos um horizonte de dez anos de execução de obras, em que será necessário formar uma nova geração ferroviária, que saiba trabalhar com as novas tecnologias e equipamentos”, afirma Rodrigo Vilaça, presidente-executivo da ANTF. O setor empregava 16.662 profissionais em 1997 e vai fechar 2012 com 44 mil trabalhadores.
Extinção - Hostílio Xavier Ratton Neto, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da UFRJ, destaca que começa a acontecer, agora, com a engenharia ferroviária, o que vem ocorrendo nos últimos anos com as engenharias em geral, que voltam a ganhar mercado após um período de restrição que durou dos anos 1980 aos anos 2000.
O que, inclusive, provocou a extinção do curso de graduação em engenharia ferroviária – que, agora, instituições de ensino planejam recriar. No mercado, hoje, só há pós-graduação.
“Esse hiato comprometeu a renovação gradativa dos quadros e a complementação da formação profissional pelo convívio e pela transferência de conhecimentos”, ressalta Ratton Neto. De olho na necessidade de voltar a formar profissionais para o mercado ferroviário, a ANTF está em contato com 13 universidades brasileiras para recriar o curso de nível superior.
Por enquanto, a conversa está mais avançada com a Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, embora ainda não haja nenhum projeto concreto. No Rio, a Estácio também tem planos de lançar o curso de engenharia ferroviária em unidades de todo o país. “Isso porque os investimentos em ferrovias deverão abrir oportunidades nas diferentes regiões do Brasil”, afirma Harvey Cosenza, diretor do Centro de Tecnologias do Grupo Estácio, lembrando também que será preciso recrutar corpo docente para lecionar. “Há falta de professores, em função da parada do mercado”, diz.
Projetos - Além dos técnicos, que serão requeridos nas etapas de construção e manutenção de ferrovias, os investimentos, quando começarem a ocorrer, vão impactar também todas as engenharias, e a área de logística, gestão e planejamento, criando oportunidades também para economistas, administradores e profissionais correlatos. “Se tudo funcionar e os projetos saírem do papel conforme o planejado, haverá grandes oportunidades para diferentes carreiras”, conclui o professor da FGV, especialista em logística e transporte de cargas, Renaud Barbosa.
Ensino - Escola em Curitiba forma profissionais de nível médio e superior.
Em Curitiba, foi inaugurada neste ano uma unidade do Centro de Estudos e Pesquisas Ferroviárias e Rodoviárias (Cepefer), escola que oferece cursos no setor ferroviário. De acordo com Lilian Ramos, diretora da unidade na capital paranaense, a maior demanda hoje são para os cursos de técnico ferroviário – que exige apenas formação do ensino médio – e o MBARail, uma pós-graduação para a formação de engenheiros ferroviários, em geral voltada para qualquer profissional formado em uma das engenharias, mas não exclusivamente.
No Paraná, o profissional da área possui diferentes opções de emprego. Além da maior empresa do setor ferroviário do país, a ALL, que tem sede em Curitiba, a Serra Verde Express e a Vega Engenharia, responsável pelo projeto de metrô na capital, também contratam profissionais da área. Além disso, segundo Lilian, várias empresas do estado atuam como fornecedoras para o setor ferroviário e também necessitam de mão de obra qualificada, como Bosch, MVC e a Siemens. “E as concessionárias que atuam em outras regiões, como no Nordeste e no Sudeste, contratam profissional de todo o país, deslocando-os para projetos específicos. Uma outra opção ainda seria o mercado de Santa Catarina. Em Itajaí, por exemplo, opera a Ferrovia Teresa Cristina, a FTC, outra contratante do setor.”
De acordo com a diretora da Cepefer, o técnico em ferrovias tem um salário inicial médio de R$ 1,4 mil a R$ 2,6 mil. A remuneração dos engenheiros varia de R$ 4 mil a R$ 7 mil.
Lacuna é suprida pelas empresas - A tendência é de que, com o aumento da procura por formação na área ferroviária, cresça também o número de especialistas aptos a dar aulas. Diante da falta de mão de obra qualificada no mercado, empresas como a Vale e a SuperVia, por exemplo, desenvolveram programas internos de treinamento de pessoal. Bruno Borlot, de 28 anos, formado em Engenharia Elétrica, se especializou em ferrovias através do Programa de Especialização Profissional da Vale, no qual fez uma pós-graduação em Engenharia Ferroviária. “Sempre tive paixão pelo setor e, agora, com o potencial de crescimento do nosso país e com os investimentos anunciados, vejo grande capacidade de ampliação de oportunidades e de desenvolvimento profissional”, destaca Borlot, que conta que, se existisse a graduação em Engenharia Ferroviária, teria optado pelo curso. João Gouveia, diretor de operações da SuperVia, explica que a formação de profissionais internamente é uma característica do setor ferroviário brasileiro. “Pode ser que, no futuro, a gente consiga encontrar profissionais já formados no mercado. Mas isso, provavelmente, não excluirá os treinamentos in company, já que cada empresa tem um tipo de trem e de tecnologia”, ressalta Gouveia.
Cursos superiores - 13 universidades do país estão em contato com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários para recriar o curso superior de Engenharia Ferroviária.
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