Há muitos anos ouvimos que o Brasil é o país do futuro. O futuro chegou, e o Brasil ainda está longe de ser a potência que nos fizeram sonhar. Mesmo com relativo equilíbrio político e tranqüilidade econômica interna, aliados a um longo período de prosperidade externa, não foi possível colocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento rumo a um futuro melhor.
Nesta matéria veremos os principais gargalos infraestruturais que o governo e a sociedade precisam solucionar se quisermos ver o Brasil um país melhor no médio e longo prazos. Abordaremos hoje os aeroportos e as ferrovias, e na próxima matéria você verá o que precisa ser feito nas rodovias e nos portos. Veja no final desta matéria como manter-se atualizado e não perder a segunda parte deste estudo.
Começamos pelos investimentos totais em obras de infraestrutura. Nos últimos 8 anos, os investimentos diminuíram levemente, estando estimados em 2,18% do PIB, segundo o IPEA. Chegou a ser 3,32% em 2001 e caiu até 1,85% em 2004. Para avançar, é preciso muito mais, mais do que o dobro deste valor. Tomemos como exemplos números de outros países, também em desenvolvimento e em situação semelhante à nossa: A China, o gigante industrial da atualidade investe 7,3% do seu PIB, que já é muito muito maior do que o nosso. O Chile, nosso quase-vizinho sul-americano investe 6,2%, a Colômbia 5,8% e um outro membro do BRIC, a Índia investe 5,63%.
Já abordamos muitas vezes aqui no Logística Descomplicada a lacuna que existe entre demanda e realidade no setor aéreo no Brasil. Veja por exemplo Infraestrutura brasileira – transporte aéreo de passageiros e Pesquisa infraestrutura parte 3 – aeroportos brasileiros. Investimentos em infraestrutura aeroviária não podem ser feitos no curto prazo, pois são obras grandes, que normalmente envolvem construção de estradas, trens, metrôs e outras obras para garantir a integração do aeroporto na vida da cidade.
Para as 12 cidades-sede dos jogos da Copa do Mundo de 2014, o governo prometeu 5,5 bilhões de reais em investimentos no setor aéreo. Destes, apenas 195 milhões, ou 3,5%, estão contratados e míseros 54 milhões (ou menos de 1%!) estão executados. A diferença não é justificada, pois nenhum grande aeroporto do país tem capacidade ociosa. Em Cumbica, a demanda é de 65 pousos e decolagens por hora, enquanto a capacidade é de 53.
No setor ferroviário, a situação é ainda pior, pois vemos que boa parte do transporte de bens é feito via caminhões, mesmo em distâncias envolvendo milhares de quilômetros, quando as ferrovias poderiam tornar o transporte mais seguro, econômico, além de desafogar o trânsito. Mas isto não pode ser realidade pois não temos ferrovias capazes de fazer este transporte – elas não existem em quantidade e qualidade suficiente. Leia análises do setor em Situação do transporte ferroviário no Brasil e Custo Brasil – situação do transporte de cargas.
A velocidade média das composições de carga no Brasil é menos de 1/3 da velocidade nos EUA. Aqui, os trens se locomovem (ou rastejam) a 25km/h em média, contra 80 km/h por lá. O PIB nacional não pára de crescer (mesmo com números irrisórios), enquanto a malha ferroviária diminuiu nas últimas décadas. Hoje temos pouco mais de 29 mil km de trilhos contra mais de 37 mil em 1958.
Com tão poucos trilhos, a próxima tabela já era esperada. A densidade de linha para cada 1000 km² de área nacional é das mais baixas quando comparamos tanto países desenvolvidos quanto nossos concorrentes do BRIC:
Dizer que temos áreas inabitáveis e inacessíveis não é desculpa para uma malha tão esparsa, pois países como Rússia e Canadá tem áreas tão grandes (ou maiores) que as nossas, terras congeladas a maior parte do ano e ainda assim estão muito à nossa frente.
Fonte: Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF)
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